Casos Clínicos

Um novo modelo de retentor fibroresinoso intrarradicular para reabilitação de elementos fragilizados.

Um novo modelo de retentor fibroresinoso intrarradicular para reabilitação de elementos fragilizados.

Relato de caso clínico. Victor Nobrega

Resumo

A reabilitação de dentes tratados endodonticamente, principalmente os que não possuem uma férula coronária, sempre foi um desafio para o operador.
A ausência da férula sempre orientou o cirurgião dentista a utilizar pinos metálicos fundidos para a reconstrução coronária que, devido ao seu alto módulo de elasticidade pode levar a fraturas catastróficas.
O presente caso clinico apresenta um protocolo para um novo tipo de retentor que permite uma adaptação mais precisa na área cervical, além de um embricamento mecânico maior, aumentando a indicação de pinos em fibra de vidro para dentes com pouco remanescente dentinário coronário.

Introdução

Os retentores intrarradiculares são utilizados com frequência em dentes tratados endodonticamente, a fim de suportar a restauração envolvida para a reabilitação desse elemento dental(1).

Os retentores podem ser do tipo direto ou indireto em relação à técnica de confecção, e podem ser utilizados variados materiais(2).

Sabendo-se que os pinos metálicos fundidos possuem um alto módulo de elasticidade e que podem ocasionar fraturas do tipo catastróficas, os pinos pré-fabricados em fibra vieram para trazer uma previsibilidade e longevidade aos dentes reabilitados com retentores(3).

Apesar de um módulo de elasticidade e estética adequados, os pinos em fibra de vidro ainda possuíam um limitante para sua indicação no que diz respeito à altura do remanescente coronário dentinário. A férula cervical é de fundamental importância para a manutenção da estabilidade e resistência da reabilitação promovida(4).

A anatomia dos condutos, com maior diâmetro na embocadura do canal, também ocasiona uma maior espessura da linha de cimentação nessa região, o que não é ideal para a estabilidade do retentor pré-fabricado(5).

Pinos anatomizados com resina composta foram introduzidos para suprir essas deficiências presentes nos retentores convencionais. Porém, a resina composta também não é o material mais adequado para suportar a carga compressiva dessa reabilitação(6,7).

Recentemente, foi introduzido no mercado um sistema auto ajustável de retentores em fibra de vidro, que elimina a necessidade do reembasamento e aumenta a quantidade de fibras dentro do conduto. O sistema também possibilita um embricamento mais homogêneo dos pinos às paredes do conduto, o que proporciona uma maior estabilidade dessa reabilitação.

Relato do caso clinico

Paciente H.W sexo masculino, 42 anos, ASA I, temperatura 36,3 C, sem histórico de doença prévia, pressão arterial 130x90mmhg, não fumante, procurou a nossa equipe com queixa de dor, relatando uma fratura coronária. No exame radiográfico foi possível visualizar um pino metálico rosqueado e ausência de material obturador (Fig1).

Foi proposto um tratamento envolvendo a remoção do pino metálico, instrumentação do conduto e colocação de um novo modelo de pino de fibra de vidro ajustável, o Splendor

SAP (Angelus – Londrina – Brasil) para possibilitar uma reabilitação protética e a manutenção do elemento na boca.

A remoção do pino metálico foi realizada com inserto de ultrassom de periodontia convencional (Fig3), cauterização do tecido invaginado com bisturi eletrônico (BE 3000), instrumentação do conduto com sistema Prodesing R (35.05) aliado ao hipoclorito de sódio 2,5% e irrigação final com água destilada. Após esta etapa, realizamos a prova do pino de fibra de vidro (Splendor SAP), com objetivo de cortar o pino na altura correta, bem como para mensurar a profundidade que o pino consegue atingir na raiz sem material obturador.Com esses dados, pudemos realizar o corte da guta-percha respeitando a anatomia do dente sem desgaste de dentina para colocação do pino (Fig4).

Foi utilizado na obturação o cimento Bio-C Sealer (Angelus – Londrina – Brasil) com cone único de guta-percha M (Odous de Deus), sendo o corte da guta-percha realizada com um aparelho termoplastificador (Odous Touch) ponta FM. O primeiro corte é feito em lateralidade e condensado com um calcador duplo de Paiva número 3, e introduzimos a ponta do termo até o comprimento desejado, deixando 6mm remanescente de guta-percha. Conduto foi irrigado com água destilada associando a ponta de ultrassom E18(Helse) para limpeza do conduto após a obturação.

A limpeza do pino foi realizada com álcool e posteriormente jato de ar para seca-lo, aplicado uma camada de silano (SILANO ANGELUS®) e aguardamos por 01 minuto. O cimento utilizado foi o Rely X U200, inserido com sua ponta misturadora automix.

Foi posicionado inicialmente o pino e, posteriormente, a luva que o acompanha, possibilitando o correto embricamento e posteriormente realizado o munhão com resina composta de carga (Fig5).

Fig 1. Radiografia inicial

Fig 2. Vista palatina do caso inicial

Fig 3. Remoção do pino metálico

Fig 4.Prova do pino Splendor, após a instrumentação do conduto

Fig 5. Reconstrução do munhão coronário

Fig 6. Rx final após a cimentação

Conclusão

Concluiu-se que o sucesso do tratamento foi obtido com a conservação do elemento dental e sua reabilitação com o uso de materiais e técnicas apropriados, e comprovado pela proservaçãoo clínica e radiográfica, atendendo às expectativas do paciente.

Referências bibliográficas

  1. Juloski J, Radovic I, Goracci C, Vulicevic ZR, Ferrari M. Ferrule effect: a literature review. J Endod. 2012;38(1):11-19
  2. Clavijo VGR et al. Reabilitação de dentes tratados endodonticamente com pinos anatômicos indiretos de fibra de vidro. R Dental Press Estét.2008;5(2):31-49.
  3. Clavijo VG, Reis JM, Kabbach W, Silva AL, Oliveira Junior OB, Andrade MF. Fracture strength of flared bovine roots restored with different intraradicular posts. J Appl Oral Sci. 2009;17(6):574-8.
  4. Kar S, Tripathi A, Trivedi C. Effect of Different Ferrule Length on Fracture Resistance of Endodontically Treated Teeth: An In vitro Study. J Clin Diagn Res. 2017;11(4)
  5. D’Arcangelo C, Cinelli M, De Angelis F, D’Amario M. The effect of resin cement film thickness on the pullout strength of a fiber-reinforced post system. J Prosthet Dent. 2007;98(3):193-198
  6. Fonseca RB et al. Anatomic fiber posts, clinical technique and mechanical benefits – a case report. Dental Press Endod. 2011;1(3):71-8.
  7. Nikhil V, Jha P, Aggarwal A. Comparative evaluation of fracture resistance of simulated immature teeth restored with glass fiber posts, intracanal composite resin, and experimental dentine posts. ScientificWorldJournal. 2015;2015:751425

 

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